Aluguéis de centros de distribuição e condomínios logísticos
dispararam nos últimos cinco anos; investidor que opta por fundos imobiliários
tem isenção de IR
Projeto
de condomínio logístico em Cajamar (SP): aluguéis elevados atraem
investidores
Os
condomínios logísticos e galpões industriais passam por um momento virtuoso de
investimentos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Esses imóveis servem tanto como
base de distribuição de produtos para empresas de varejo quanto para que
companhias industriais instalem fábricas e unidades produtivas. Hoje é enorme o
número de empresas que busca galpões nas proximidades das duas maiores cidades
do país e não encontra algo que atenda completamente a suas necessidades. Após
quase uma década de estagnação, os aluguéis desses imóveis dispararam desde 2006
como reflexo do desequilíbrio entre a oferta e a demanda. O movimento atraiu o
interesse de grandes investidores imobiliários e, neste momento, começam a
surgir novos fundos com quotas
negociadas na BM&FBovespa – o que possibilita que as pessoas físicas também
possam apostar nesse segmento.
Para as empresas brasileiras, esses imóveis representam a
oportunidade de se instalar nas proximidades dos grandes centros sem grandes
investimentos. Redução de custos logísticos e de manutenção ajudam a compensar
parte dos custos com os aluguéis. Já para quem gosta investir em imóveis
comerciais como fonte de renda, os galpões representam uma forma de alcançar uma
rentabilidade mais elevada. Segundo Sandra Ralston, vice-presidente da
consultoria Colliers, o retorno médio de quem compra hoje um galpão alcança
10,5% ao ano. No caso de torres de escritórios de alto padrão, a rentabilidade
seria mais baixa e estaria próxima a 9,5%.
O
risco do investidor também pode ser considerado menor, segundo Simone Santos,
diretora da Herzog Imóveis Industriais e Comerciais. O tempo de construção de um
condomínio logístico gira em torno de seis a oito meses. Já para erguer um
prédio comercial em uma região nobre como a avenida Faria Lima, no centro
financeiro de São Paulo, é possível que se transcorram quatro anos. O risco de
que o mercado já não esteja mais em um excelente momento quando as chaves forem
entregues, portanto, é bem maior. Isso é particularmente importante na tomada de
decisão dos investidores neste momento, já que há grande dúvidas sobre o
desempenho da economia em 2012.
O
mercado de grandes prédios corporativos também enfrenta outras dificuldades
atualmente. Os bancos raramente financiam esse tipo de empreendimento. O
investidor tem que empatar recursos durante vários anos antes de começar a obter
retornos. Há ainda os gargalos de terrenos, mão de obra e equipamentos, que
dificultam a vida das incorporadoras. Já para construir um centro logístico à
beira de alguma rodovia existem menos gargalos.
A
desvantagem dos galpões sobre outros imóveis comerciais se dá em termos de
preservação no patrimônio. As limitações físicas para a construção de novos
prédios em bairros nobres de São Paulo também funcionam como uma espécie de
barreira de entrada para novos concorrentes nesse segmento. A baixa criação de
novos estoques e a manutenção da oferta reduzida favorecem quem já possui uma
propriedade nesses locais.
Opções de
investimento
Para
quem quer investir em galpões, há duas opções. O investidor que possui ao menos
2 milhões de reais no bolso pode comprar um pedaço de um condomínio logístico.
Empresas como a GR Properties se especializaram nesse tipo de negócio. Já quem
não tem tanto dinheiro no bolso tem a opção de investir em galpões por meio de
fundos imobiliários com quotas negociadas na BM&FBovespa. Esses papéis podem
ser comprados via home broker. Alguns fundos têm quotas negociadas por 100
reais, por exemplo.
Os
fundos imobiliários também possuem vantagens como a maior liquidez (costuma ser
possível comprar e vender pequenas quantidades de quotas no mesmo dia), a
burocracia quase inexistente (não é preciso arcar com despesas como escritura e
taxas do cartório) e principalmente a isenção de Imposto de Renda sobre os
aluguéis distribuídos às pessoas físicas (o aluguel de um imóvel próprio pode
ser tributado com uma alíquota de até 27,5%).
Os administradores de fundos imobiliários começaram a
perceber a atratividade do negócio de galpões recentemente. Antes concentradas
no setor de escritórios e shoppings, as ofertas públicas em curso estão voltadas
principalmente para imóveis logísticos. Entre os administradores que já
anunciaram emissões ou planejam captar recursos nos próximos meses estão Credit
Suisse Hedging Griffo, TRX Realty, Brazilian Mortgages e Kinea. “O imóvel
industrial e logístico é tão comum em fundos imobiliários nos Estados Unidos
quanto os shoppings e os prédios de escritórios”, diz Marcos Montandon ,
vice-presidente do CBRE Group. “Esse segmento tem um enorme potencial no
Brasil.”
Riscos
Os
dois principais riscos para quem investe em imóveis comerciais de qualquer tipo
são a vacância e a inadimplência. Hoje a taxa de vacância média dos galpões nas
proximidades de São Paulo alcança 6%, segundo Simone, da Herzog. Na cidade de
São Paulo, o percentual de imóveis vazios é próximo de zero. Os bons números
refletem a escassez de oferta de empreendimentos. Como é impossível adivinhar o
futuro da economia, no entanto, o investidor precavido deve dar preferência a
imóveis que possuem contratos de aluguel com prazos muito longos, como cinco a
dez anos. Uma multa para ressarcir quebras de contrato antes do fim também é
outra garantia interessante.
A
precaução é válida principalmente porque, com o boom dos aluguéis, o ritmo de
inauguração de empreendimentos logísticos tem crescido rapidamente nos últimos
anos. Em 2011, o novo estoque a ser entregue em um raio de 150 km de São Paulo
deve alcançar 830.000 metros quadrados. Segundo a Herzog, outros 1,2 milhão de
metros quadrados chegarão ao mercado em 2012, conforme a tabela abaixo:
As
características de um condomínio logístico também importam muito para quem tem
horror ao risco de vacância. Imóveis multiuso e modulares costumam ser os mais
interessantes porque aumentam o universo de potenciais inquilinos e servem tanto
ao varejo quanto à indústria. A divisão modular permite locá-lo para várias
empresas e diversificar o risco de inadimplência. Cada módulo costuma ter cerca
de 1.000 metros quadrados e ser facilmente reunido a outro ou adaptável.
Nesse caso, o compartilhamento dos custos do condomínio
entre vários inquilinos costuma agradar as empresas. Outras características que
costumam ser buscadas pelos inquilinos e que distinguem um galpão de alto padrão
dos demais são uma boa área de pátio para estacionamento e manobra de caminhões,
pé direito acima de 10 metros, grande distância entre pilares, presença de
várias docas para carga e descarga, escritórios anexos, restaurante para
funcionários, ambulatório e sistema de segurança eficiente.
Localização
Como
em qualquer investimento imobiliário, a localização dos empreendimentos é um
fator determinante para o sucesso do negócio. Em São Paulo, optar por um fundo
que tenha imóveis localizados em boas rodovias a no máximo 70 km da capital é
uma boa aposta. “Esses imóveis correm risco menor de vacância, mesmo que haja
uma virada na economia”, diz Montandon , do CBRE Group.
As
cidades que se tornaram verdadeiros polos logísticos nos últimos anos foram
Barueri, Jundiaí, Cajamar e Sorocaba, que estão às margens de excelentes
rodovias como a Bandeirantes, a Anhanguera e a Castelo Branco. De certa forma, a
inauguração do Rodoanel tende a descentralizar a presença dos galpões, já que o
deslocamento entre as rodovias ficou muito mais fácil. Já começam a surgir, por
exemplo, os primeiros condomínios logísticos nas margens da rodovia Régis
Bittencourt, que liga São Paulo a Curitiba. Veja abaixo quanto custam em média
os aluguéis de galpões em cada região:
Há
ainda duas regiões que são vistas com enorme potencial futuro. Devido à
proximidade ao porto de Santos e inauguração do trecho sul do Rodoanel, a região
do ABCD tende a se destacar nesse segmento nos próximos anos. O mesmo deve
acontecer na via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Hoje, a maioria
dos galpões da rodovia está instalada em Guarulhos devido à proximidade ao
aeroporto de Cumbica.
Mas há centenas de outras grandes empresas para quem é
interessante se instalar entre o Rio e São Paulo e que não encontram boas opções
de imóveis. O que afasta os investidores dessa região é a demora na inauguração
do trecho norte do Rodoanel, o acesso sempre congestionado à cidade de São Paulo
pela via Dutra e a dificuldade em obter licenças para esse tipo de projeto em
alguns municípios cortados pela rodovia.
Já
no Rio de Janeiro, o mercado de galpões ainda engatinha. A maioria das empresas
usa antigos imóveis dentro da cidade, que foram reformados para uma finalidade
específica. Isso também era bem comum até a década de 1990 na cidade de São
Paulo. A tendência, entretanto, é que os galpões comecem a se mudar gradualmente
para cidades próximas tanto por fatores logísticos quanto devido aos custos mais
baixos e economia de tempo de deslocamento.
No
Rio, os principais projetos estão concentrados na cidade de Queimados, que fica
a cerca de 30 km da capital e oferece incentivos fiscais para as empresas que
ali se instalarem. Outro grande impulso à descentralização dos galpões será a
inauguração do primeiro trecho do Arco Metropolitano a partir de 2013. A obra
deve facilitar a troca de rodovias nas proximidades do Rio de Janeiro da mesma
forma que o Rodoanel em São Paulo. “Todas as cidades cortadas pelo arco devem
ser beneficiadas”, diz Montandon , do CBRE Group.
No
futuro mais distante, a onda de condomínios logísticos também pode alcançar
polos regionais, como Brasília, Recife e cidades portuárias importantes. Para
quem planeja entrar nesse negócio agora, entretanto, aqui vai um alerta. Nos
últimos cinco anos, os aluguéis desse tipo de imóveis subiram 20% ao ano e agora
já estão em patamares que podem ser considerados elevados. “Eu não esperaria um
reajuste tão acentuado dos aluguéis nos próximos cinco ou dez anos”, diz Simone,
da Herzog.(Exame)